Partner im RedaktionsNetzwerk Deutschland
Écoutez Linha Direta dans l'application
Écoutez Linha Direta dans l'application
(26.581)(171.489)
Sauvegarde des favoris
Réveil
Minuteur
Sauvegarde des favoris
Réveil
Minuteur
AccueilPodcasts
Linha Direta

Linha Direta

Podcast Linha Direta
Podcast Linha Direta

Linha Direta

ajouter
Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade. Voir plus
Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade. Voir plus

Épisodes disponibles

5 sur 23
  • Campanha alemã contra importação de morango espanhol gera controvérsias na Espanha
    Uma organização alemã está impulsionando um boicote ao morango e a outras frutas vermelhas produzidas na região sul da Espanha. Em uma plataforma de petição online, mais de 164 mil pessoas já prestaram apoio à campanha. O principal argumento é o de que o cultivo está sendo feito de forma predatória, ameaçando o Parque Nacional de Doñana, que corre o risco de secar. Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI na EspanhaEm meio à intensa repercussão que o assunto tem gerado, uma comitiva de nove parlamentares alemães viajou a Madri, onde se reuniu com representantes do governo espanhol.A Comissão de Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Proteção do Consumidor do parlamento alemão, formada por deputados alemães das mais variadas vertentes ideológicas, veio à Espanha e esteve reunida nesta segunda-feira (5), em Madri, com o secretário de Estado do meio ambiente, Hugo Morán.Segundo a embaixadora da Alemanha em Madri, Maria Margarete Gosse, o objetivo da viagem era trocar informações técnicas que interessam aos dois países sobre as mudanças climáticas e suas consequências.Mesmo com essa finalidade comum entre Alemanha e Espanha, parte da programação prevista para a visita dos líderes germânicos foi cancelada já com os deputados em solo espanhol. A ida à região da Andaluzia, onde, segundo denúncias, está havendo extração ilegal de água para cultivo predatório de morango e outras frutas vermelhas, não vai mais acontecer.Ainda de acordo com a embaixadora alemã, a decisão foi tomada, às vésperas das eleições gerais espanholas, “por respeito”. Tendo em vista a grande importância política que os temas tratados na visita ganharam nos últimos dias, a Alemanha decidiu evitar maior interferência no processo democrático em curso no país ibérico. Os espanhóis, que votariam para eleger o governo central do país em novembro, vão às urnas no dia 23 de julho, depois que o primeiro-ministro Pedro Sánchez anunciou o adiantamento do pleito. Campanha virtual, alcance realAntes mesmo de a visita dos parlamentares alemães à Espanha se concretizar, a discussão sobre a sustentabilidade do cultivo de frutas vermelhas na Andaluzia já vinha dividindo profundamente a classe política por aqui. E o embate entre oposições, assim como a visita germânica, foi especialmente impulsionado pela campanha de boicote promovida pela organização alemã Campact, que tem como lema “detenha o roubo de água em troca de morangos baratos”.O movimento, iniciado no fim do mês passado, já conta com mais de 164 mil assinaturas e faz um apelo para que os principais supermercados alemães parem de comercializar a fruta espanhola, conectando o cultivo do morango à situação de seca e estresse hídrico que sofre o Parque Nacional de Doñana.Além de denunciar uma exploração predatória que estaria contribuindo para a escassez de água, o manifesto de campanha presente no site diz que a Alemanha é o comprador mais importante de morangos espanhóis e que os morangos importados costumam ser muito mais baratos do que os alemães porque, na Espanha, os trabalhadores agrícolas “são explorados”. Assim, “os morangos são baratos às custas da natureza e das pessoas”.O texto presente no site argumenta, ainda, que o Parque Nacional de Doñana, maior zona úmida da Europa, enfrenta uma “enorme escassez de água”. Como razões para isso, são apontadas a diminuição de águas subterrâneas, por conta da seca enfrentada pela Espanha, e a crise climática. “Por outro lado, a agricultura exacerba a escassez de água”, pontua a publicação, afirmando que o cultivo de frutas vermelhas como o morango consome uma “quantidade extremamente grande de água”.Embate políticoO alcance conquistado pela campanha acirrou a tensão entre o governo central espanhol, de esquerda, e o governo direitista da região da Andaluzia. Diante da intensificação do debate acerca da forma de cultivo de morango e de outras frutas vermelhas no sul do país, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol, publicou em uma rede social: “o negacionismo arruina o meio ambiente e põe em risco as economias locais. Salvemos Doñana”. Terceira vice-presidenta de governo e ministra para a transição ecológica e desafio demográfico, Teresa Ribera (PSOE) seguiu a mesma linha e comentou o estado de alerta entre os consumidores alemães que ameaçam um boicote ao consumo de morangos vindos da Espanha. Ribera disse que “Juanma Moreno deve retirar imediatamente a lei de irrigação que ameaça Doñana”, referindo-se ao governador da região da Andaluzia para demonstrar rechaço a uma medida impulsionada por partidos de direita que prevê a legalização de cultivos até então proibidos no entorno do Parque Nacional de Doñana.A proposta de lei reconhece 800 hectares como possíveis zonas agrícolas e tramita em caráter de urgência no parlamento andaluz. Além da oposição do governo central, o projeto enfrenta possibilidades de multa por parte da União Europeia, caso seja aprovado, e a reprovação de nomes da comunidade científica e de ecologistas.Juanma Moreno, que governa a Andaluzia e lidera o Partido Popular na região, sustenta o argumento de que a manipulação do governo nacional fugiu do controle e diz que, “falando mal de Andaluzia e dos seus agricultores”, os governantes espanhóis estão brincando com o pão de milhares de famílias.Setor agrícolaDiante de toda a polêmica envolvendo o cultivo na região, a Interfesa, Interprofissional Andaluza do Morango e das Frutas Vermelhas, declarou que todos os morangos e demais frutas vermelhas cultivados na cidade de Huelva — principal produtora — cumprem as certificações e os protocolos internacionais de gestão responsável de água exigidos pelos supermercados europeus.Por outro lado, a Federação Espanhola de Associações de Produtores Exportadores de Frutas e Hortaliças, a FEPEX, publicou que as críticas da campanha alemã são injustificadas e que respondem a objetivos comerciais. Segundo a organização, essa é uma tentativa de desprestigiar os competidores para fortalecer o mercado interno.A Associação de Jovens Agricultores, em comunicado oficial, acusou o primeiro-ministro Pedro Sánchez de atacar o setor agrário do país, somando-se a uma campanha de desprestígio. A associação ressaltou, ainda, que a produção de frutas vermelhas em Huelva se traduz em mais de € 600 milhões anuais, gerando mais de 100 mil empregos. 
    06/06/2023
  • Entenda a controversa "Lei Tusk", adotada pelo governo da Polônia e que leva milhares de pessoas às ruas
    Cerca de meio milhão de pessoas saíram às ruas de Varsóvia no domingo (5) para protestar contra o governo populista de direita. A passeata foi convocada semanas atrás pelo principal partido da oposição, mas ganhou apoio nos últimos dias. A contestação ocorre devido à aprovação de uma lei que permitiria banir de cargos públicos pessoas consideradas "agentes de influência russa". A legislação é acusada de ser um mecanismo para impedir a oposição de concorrer às eleições legislativas deste ano.  Marcio Damasceno, correspondente da RFI em BerlimSegundo os organizadores, esta foi a maior manifestação em Varsóvia desde a queda do comunismo, em 1989. Há diversos fatores para a grande repercussão dessa passeata. Primeiramente há muito tempo que muitos têm questionado as credenciais democráticas desse governo. Há oito anos no poder, o partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) levou a Polônia a estar em constante atrito com a Comissão Europeia, promovendo reformas que restringem o Estado de Direito e as liberdades dos poloneses.Há também fatores econômicos. A inflação vem aumentando Polônia recentemente, principalmente por causa das consequências da guerra na Ucrânia. O fenômeno afeta o poder econômico da população de forma massiva. Mas o terceiro e talvez mais decisivo fator é uma nova lei que foi aprovada pelo Parlamento na semana passada, que cria uma comissão para investigar supostas influências russas sobre políticos poloneses. Os críticos dessa nova legislação dizem que essa é uma forma de alvejar políticos da oposição, porque a comissão terá o poder de banir pessoas de cargos públicos. O detalhe é que a Polônia está a apenas alguns meses das eleições parlamentares. A opinião pública questiona se o governo ultraconservador não estaria dessa vez indo longe demais, tentando impedir a oposição de participar da eleição."Lacaio" da Alemanha e da RússiaA nova legislação foi apelidada de "Lei Tusk", porque alveja principalmente a maior figura da oposição polonesa, o ex-primeiro-ministro Donald Tusk. Chefe do governo polonês de 2007 a 2014, ele é considerado o mais feroz oponente político do poderoso líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski. Tusk sempre manteve contato próximo com a então chanceler alemã, Angela Merkel, e também tentou, assim como ela, melhorar o relacionamento da Polônia com a Rússia. Há muito tempo que o governo polonês usa o argumento como pretexto para acusar Tusk de ser tanto "lacaio" da Alemanha como do Kremlin. Os ultranacionalistas do partido governista polonês sempre cultivaram uma imagem da Alemanha como uma "potência imperialista", assim como o fazem em relação à Rússia. Mas o tiro parece estar saindo pela culatra. A passeata de domingo havia sido convocada semanas atrás pelo próprio Tusk, mas a convocação não chegou a ter grande destaque entre a população e foi recebida com ceticismo pelos outros partidos de oposição. A revolta causada pela aprovação dessa lei sobre a suposta influência russa levou a um movimento de união de partidos de oposição, que aderiram ao protesto. Entre eles, estão os líderes de duas populares legendas de centro-direita – o Polska 2050 de Szymon Holownia e o Partido Camponês PSL, de Wladyslaw Kosiniak-Kamysz – que a princípio resistiram por temer o domínio do partido Tusk na marcha.Estopim para derrota dos ultraconservadores?Se essa grande manifestação de domingo pode se tornar o estopim de uma mudança de governo na Polônia, é algo difícil de prever neste momento. As pesquisas indicam que nem o governista PiS nem a Plataforma Cívica de Tusk vão conseguir votos suficientes para formar um governo sozinhos. O resultado da eleição pode depender de como os partidos menores vão se sair nas urnas e de quem será capaz de formar uma coalizão viável.No entanto, o grande protesto contou com participação de partidos da oposição que até agora eram considerados rivais. A união deles é um sinal de esperança para uma formação de uma ampla frente capaz de tirar os ultraconservadores do poder.
    05/06/2023
  • Reino Unido pode adotar tabelamento de preços para conter inflação
    A insistente alta dos preços dos alimentos, que se mantém na casa de dois dígitos há meses, levou o Reino Unido a colocar sobre a mesa uma ideia que até bem pouco tempo seria inconcebível em um país europeu: o tabelamento de alguns itens de primeira necessidade. A possibilidade foi recebida com críticas. Desagrada produtores e atacadistas, oposição e até mesmo uma ala do partido conservador do primeiro-ministro Rishi Sunak. A meta de inflação no país, que era de 2%, foi temporariamente suspensa. Vivian Oswald, correspondente da RFI em LondresO governo admite estar em conversas com os setores responsáveis para que eles o façam de maneira voluntária, mas nega a intenção de impor limites de preços. Os alimentos já são o principal fator de pressão sobre os índices de inflação. Mais do que os combustíveis. O que se discute é a criação de um teto para produtos-chave de maneira voluntária. Mas já há quem defenda que, se isso não funcionar, o governo deve ser mais enérgico e estabelecer ele os limites máximos. A proposta foi ventilada pelo periódico britânico The Sunday Telegraph e foi parar nas primeiras páginas dos principais jornais do país. Alguns economistas defendem que um aumento nos subsídios concedidos à população mais pobre pode ser uma saída mais eficiente para atacar o problema do impacto do custo de vida das famílias até que as leis de oferta e demanda se encarreguem de baixar os preços.Opiniões se dividemA discussão divide os conservadores, tradicionalmente fervorosos defensores do liberalismo e da mínima interferência às leis de mercado. Para os supermercados, por trás da inflação de alimentos está a disparada dos preços de energia, transporte e os custos de mão-de-obra, o que significa que estabelecer limites para o que se cobra do consumidor, voluntariamente, ou não, é medida que não resolverá o problema. Eles dizem que isso pode até mesmo causar desabastecimento. O chamado núcleo da inflação, que não inclui a volatilidade dos preços de alimentos e energia, medida usada pelos economistas para avaliar as tendências para o futuro bateu os 6,8% ao ano em abril, o mais alto patamar desde 1992. Depois de chegar a 11,1% ao ano em outubro de 2022, o índice geral de preços ao consumidor caiu para 8,7% em abril deste ano. O indicador para alimentos e bebidas não-alcoólicas manteve-se em 19,1% ao ano no mesmo período. É a segunda maior alta em nada menos que 45 anos. Em restaurantes e bares, os índices de refletem em uma alta de quase 10% da conta dos clientes, o que reduz o movimento e espreme ainda mais as margens de lucro do setor, um dos mais atingidos pela pandemia, que ainda tenta se reerguer. A pressão inflacionária é uma das principais preocupações da população, que vem perdendo o poder de compra nos últimos anos e está por trás de movimentos de greve em diversos segmentos da sociedade, como não se viam desde a década de 1970. Esta semana, nova paralisação de trens interrompeu os serviços por todo o país. Os funcionários prometem novas greves, assim como médicos e enfermeiros.A questão inflacionária é um dos maiores problemas da equipe econômica de Sunak. É pior do que a dos Estados Unidos e do que toda a zona do euro. Esta é uma avaliação do próprio Banco da Inglaterra, o Banco Central britânico, que vem mantendo as taxas de juros do país no nível mais alto dos últimos 40 anos. Para Catherine Mann, executiva da instituição, as pressões inflacionárias ainda não cederam. A economia do país ainda não conseguiu deslanchar como queriam os conservadores, que devem enfrentar uma eleição geral no ano que vem. Se fosse hoje, o partido da situação teria derrota expressiva nas urnas.A última vez que o governo britânico tentou tabelar preços na economia foi nos anos 1970, durante o governo do primeiro-ministro trabalhista Edward Heath.
    02/06/2023
  • UE aumenta apoio à Moldávia diante da desestabilização política no país e possível ameaça russa
    A Comunidade Política Europeia, uma iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, se reúne nesta quinta-feira, 1º de junho, no Castelo de Mimi, perto da capital Chisinau, na Moldávia. A reunião com chefes de Estado e governo de 47 países é um sinal claro de coesão para uma Moscou que parece ter olhos e boca bem abertos para a ex-república soviética. Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em BruxelasEm tempos de guerra, a segurança do continente europeu é prioridade absoluta e diante das ameaças contínuas da Rússia a melhor estratégia é se unir. Neste contexto, os líderes dos 27 países da União Europeia se reúnem com 20 outros dirigentes de nações não pertencentes ao bloco, mas inquietos com o conflito prolongado na Ucrânia. Entre eles, Reino Unido, Turquia, Suíça, Islândia, Armênia, Sérvia e Azerbaijão. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi o primeiro a chegar ao encontro e declarou que seu país está pronto para integrar a União Europeia. Recep Tayyp Erdogan, reeleito presidente da Turquia no último domingo, é o grande ausente. A presidente da Moldávia, Maia Sandu, que defende a entrada mais rápida possível de seu país na UE, afirmou às vésperas do encontro que “a Moldávia não está só em seus esforços para assegurar a segurança e estabilidade.” Recentemente,  Volodymyr Zelensky, alertou que a  Rússia tem planos para desestabilizar a situação política já volátil na Moldávia. O apoio do Ocidente à Moldávia tem crescido com o distanciamento político entre o atual governo moldavo e Moscou. Há exatamente um ano Bruxelas concedeu o status de candidato oficial à Ucrânia e Moldávia; agora é preciso saber quando os termos de adesão começarão a ser negociados. No topo da agenda da reunião desta quinta-feira, 1º, segurança, abastecimento de energia e o estabelecimento de uma missão civil na capital Chisinau para fortalecer a resiliência do país contra a desinformação e ataques cibernéticos.Posição estratégicaA pequena República da Moldávia, encravada entre a Romênia e a Ucrânia, é o país mais pobre da Europa Oriental e tem cerca de 2,6 milhões de habitantes. A ex-república soviética conquistou a independência em 1991, após o colapso do comunismo, mas tem que lidar com a Transnístria, região separatista pró-russa do país que faz fronteira com a Ucrânia e que se autoproclamou independente em 1992, e onde a Rússia mantêm tropas há décadas. O governo moldavo acredita que o país possa ser o próximo alvo do presidente russo, Vladimir Putin. Apesar de contestar Chisinau, o Kremlin tem realizado as mesmas ações que adotou antes da anexação da Criméia, em 2014, e da invasão na Ucrânia no ano passado. A Moldávia foi o país que proporcionalmente à sua população recebeu o maior número de refugiados ucranianos – cerca de 450 mil pessoas cruzaram a fronteira para fugir do conflito. Instabilidade políticaOs protestos antigovernamentais na Moldávia têm sido organizados sobretudo pelo Movimento pelo Povo com o apoio do partido Shor, considerado pró-russo, que é liderado pelo oligarca moldavo Ilan Shor, condenado pela justiça e exilado em Israel. O Shor ocupa seis das 101 cadeiras do parlamento do país. As manifestações dos últimos meses coincidem com as preocupações sobre a desestabilização da Moldávia. A presidente moldova Maia Sandu, que governa com maioria absoluta, tem acusado a Rússia de usar “sabotadores” disfarçados de civis para provocar agitação meio a um período de instabilidade política preparando assim o terreno para um golpe. Segundo Sandu, existe uma “conspiração” orquestrada por Moscou para derrubar o governo pró-europeu em Chisinau e substitui-lo por um regime ilegítimo. O governo russo rejeitou as alegações. Há dez dias, milhares de moldavos foram às ruas em várias cidades do país para pedir a integração da Moldávia na União Europeia.
    01/06/2023
  • Maior lição ficou para Lula: assunto polêmico é da alçada do Itamaraty e não arroubo de presidente
    Líderes da América do Sul assinaram documento para avançar em infraestrutura e ampliar o comércio na região, ao final do encontro organizado pelo presidente Lula, na terça-feira (30), em Brasília. Um grupo de trabalho irá analisar caminhos para uma integração maior, mas a criação de uma moeda única, sugerida por Lula, enfrenta obstáculos. O resultado político do evento acabou sendo negativo para o presidente brasileiro, diante das repercussões ruins do afago ao venezuelano Nicolás Maduro. Raquel Miura, correspondente da RFI em BrasíliaMesmo havendo divergências, inclusive sobre blocos já em vigor na região como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), a adesão ao encontro organizado pelo presidente Lula foi total. Chefes de Estado de onze países, incluindo o Brasil, e um representante do governo peruano se reuniram na capital federal neste início da semana. O que seria um gol do presidente brasileiro nas relações internacionais, área em que ele poderia nadar de braçada tamanha irrelevância teve seu antecessor no tema, Lula conseguiu transformar em polêmica, e tirou todo o holofote positivo do encontro ao minimizar a ditadura na Venezuela.A lição maior, dizem nos corredores até mesmo alguns petistas mais moderados, é que já passou da hora de Lula entender que assunto polêmico deve ser tratado pela diplomacia brasileira e não no improviso ideológico do presidente.“Em alguns momentos, em alguns temas, por exemplo, a guerra na Ucrânia, o presidente Lula tem se utilizado de uma retórica pouco institucional, ainda mais um tema sensível como são os assuntos da alta política. Acho que o Brasil tem que romper os quatro anos de isolacionismo praticado pelo governo Bolsonaro, que foi muito ruim aos nossos interesses internacionais, mas fazer isso tem que ser com uma retórica bem organizada, uma retórica sem arroubos, uma retórica institucional”, disse à RFI José Niemeyer, coordenador da Graduação em Relações Internacionais do Ibmec/RJ.As falas de Lula, que chamou de narrativas as críticas contra o governo autoritário da Venezuela, repercutiram no encontro, inclusive na reunião fechada entre os chefes de Estado, quando o presidente direitista do Uruguai, Luis Lacalle Pou, decidiu transmitir sua fala pelas redes sociais, numa etapa que seria reservada aos líderes e suas equipes, e contestou as declarações de Lula. “Fiquei surpreso quando se disse que o que se passou na Venezuela é uma narrativa. Vocês sabem o que pensamos a respeito da Venezuela, do governo da Venezuela”, disse o uruguaio.O presidente do Chile, Gabriel Boric, que é de esquerda, deixou o encontro um pouco mais cedo e, ao falar com os jornalistas na saída, afirmou que não se pode passar pano na direita ou na esquerda que afronte os direitos humanos. “Não é uma construção de narrativa. É uma realidade, é séria, e exige também uma posição firme e clara de que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em todo lugar, independente da coloração política do governante da vez”, afirmou Boric.O analista José Niemeyer avalia que Lula acertou ao receber Maduro, pois o isolamento do país se mostrou ineficaz na busca por uma solução aos graves problemas sociais e políticos do país. Mas Lula errou ao não defender a democracia.“Lula foi eleito por uma aliança grande de partidos, de agrupamentos políticos, e existem críticas muito duras, inclusive da esquerda pelo mundo, com relação à maneira de fazer política de Maduro na Venezuela. Então, acho que o presidente Lula tem que conversar formalmente com Maduro, conversa franca e institucional, porém mantendo a nossa autonomia com relação a temas como respeito à democracia, ao contraditório, respeito à oposição, ao direito político da população. Tudo o que a democracia preza e defende, o Brasil deve defender como ideia para a situação política na Venezuela”, enfatizou Niemeyer.Mesmo após ampla repercussão e muito debate na internet, Lula voltou a falar em "narrativa" durante entrevista à imprensa ao final do encontro. “O que eu disse para o Maduro é que existe uma narrativa no mundo de que na Venezuela não tem democracia e que ele cometeu erros. Eu disse para ele que é obrigação construir a narrativa dele com fatos verdadeiros", declarou o petista.Lula foi mais equilibrado na abertura oficial do evento, quando leu o discurso feito pela área diplomática. "As recentes eleições na Colômbia, no Chile, na Bolívia, no Brasil e no Paraguai demonstraram o vigor da democracia em nossa região. Temos uma história de resistência forjada nas lutas de independência e combate às ditaduras. Até no futebol é possível ver o recuo das rivalidades. Vivenciamos algo impensável no ano passado: brasileiros torcendo para a Argentina na final da Copa do Catar", ressaltou o presidente brasileiro.No Congresso, muitos adversários de Lula ocuparam a tribuna para comentar o caso. “Vergonhosamente recebe aqui, com pompa de chefe de Estado, outro ditador da Venezuela que acabou com aquele país. A Venezuela hoje é um país quebrado e que, na política, persegue opositores, frauda eleições, compra o Supremo Tribunal Federal, lacra o Parlamento”, criticou o senador Márcio Bittar (União Brasil/AC).“Maduro, Maduro, Maduro! Já está maduro esse assunto. Vamos falar da grandeza do evento para nossa exportação, para nossa importação. Eu sempre digo que direitos humanos não têm fronteira. Nós vamos sempre lutar pelos direitos humanos, não importa em que país seja, nos Estados Unidos ou em Cuba”, retrucou Paulo Paim (PT/RS).Comércio e integraçãoO documento final assinado pelos presidentes diz que haverá um esforço para melhorar a infraestrutura regional visando estimular mais o comércio e os investimentos entre os países da região. Será criado também um grupo de técnicos e diplomatas para analisar experiências e traçar caminhos para uma maior integração do subcontinente.“É importante para a retomada da relação regional, que pode ter impactos positivos tanto do ponto de vista político, da região ser ouvida em outros fóruns internacionais, como também econômico. Desde os anos 2000, os países da América do Sul buscam avançar na construção de infraestrutura regional. E isso foi muito abandonado desde o governo Temer até hoje. Então, eu imagino que, além de fortalecer os países da América do Sul, existe uma possibilidade grande da retomada de projetos econômicos e também de uma integração comercial”, afirmou à RFI o economista internacional Marcos Cordeiro Pires, professor da Unesp/Marília.O presidente Lula chegou a falar numa moeda única para facilitar e estimular transações comerciais na América do Sul, como uma alternativa ao dólar americano, num momento de cenário cada vez mais competitivo entre China e Estados Unidos. Já sobre esse ponto, de uma unidade transacional, o economista considera um passo muito à frente para a região.“Eu acho muito difícil. A moeda é expressão do valor das mercadorias, da produtividade do trabalho, da gestão macroeconômica, e do peso político-econômico de um país. A América do Sul está muito longe de preencher esses pré-requisitos, tampouco o Brasil, cujo valor da moeda depende da flutuação dos preços das commodities”, afirmou Cordeiro Pires.“Um país pode compensar a perda de produtividade desvalorizando a moeda. Mas se ele está atado a uma moeda em que ele não tem controle, pode ser levado a uma brutal perda de competitividade, déficit comercial e crise no balanço de pagamentos”, ressalta o analista econômico.Agressões à imprensaSe a semana diplomática começou com este afago polêmico de Lula a Maduro, o término do encontro dos chefes de Estado da América do Sul foi ainda pior, com agressão a profissionais da imprensa do Brasil pela equipe do presidente venezuelano e também da segurança institucional do Planalto. Os episódios aconteceram durante entrevista de Maduro aos repórteres.A TV Globo informou que uma das pessoas atingidas foi a jornalista Delis Ortiz, que levou um soco no peito de um homem que, numa identificação prévia de profissionais que estavam no local, fazia parte da segurança do governo de Caracas. Em nota, a Presidência da República do Brasil repudiou toda violência à imprensa e prometeu rigor na apuração do caso.
    31/05/2023

À propos de Linha Direta

Bate-papo com os correspondentes da RFI Brasil pelo mundo para analisar, com uma abordagem mais profunda, os principais assuntos da atualidade.
Site web du podcast

Écoutez Linha Direta, RMC Info Talk Sport ou d'autres radios du monde entier - avec l'app de radio.fr

Linha Direta

Linha Direta

Téléchargez gratuitement et écoutez facilement la radio.

Google Play StoreApp Store

Linha Direta: Radios du groupe